Intersexualidades e Biotecnologias: um estudo antropológico acerca da inserção da Hiperplasia Adrenal Congênita no Teste do Pezinho

Autores

  • Janaína Freitas Mestranda em Antropologia Social no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAS/UFRGS).

Resumo

O presente trabalho busca refletir sobre o gerenciamento sociomédico das intersexualidades em um contexto de biomolecularização da sociedade, no qual, cada vez mais intensamente, as biotecnologias são ferramentas cruciais no processo de definição, remodelação dos corpos e produção de subjetividades. Para tanto, a partir de uma “etnografia dos arquivos”, são analisados os artigos científicos que pautaram a inserção da hiperplasia adrenal congênita (HAC), a qual aparece na literatura médica como a causa mais recorrente de intersexualidade, no Programa de Triagem Neonatal no Brasil. Para além desses artigos científicos, utiliza-se, como fonte de pesquisa, trechos de diários de campo produzidos a partir da “observação participante” em situações específicas: em uma aula sobre diferenciação sexual da Pós-Graduação de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no Brasil e em uma visita ao Serviço de Referência em Triagem Neonatal da mesma localidade. Os resultados até então obtidos apontam para uma série de controvérsias em relação à inserção dessa condição nos programas de triagem, tais como o elevado número de casos “falso-positivos” e o fato da mesma não representar necessariamente um risco à vida dos sujeitos (um dos critérios importantes para inclusão nas triagens). A relação da HAC com uma variação em termos do tamanho da genitália a situa no campo do desvio em relação à norma da dicotomia sexual que é tratado pelos saberes biomédicos como uma patologia. Assim, a inclusão dessa condição no programa de triagem reflete, entre outros elementos, a forma pela qual um “problema social” é transformado em um “problema de saúde pública” e aponta, portanto, para o papel das novas biotecnologias na produção dos corpos e nas normatizações de gênero e sexualidade contemporâneas.

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Publicado

2015-05-12