O silêncio na sala de aula

Autores

  • Juarez Melgaço Valadare
  • Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco

Resumo

Neste trabalho analisamos os impasses decorrentes do encontro entre a cultura acadêmica e os saberes tradicionais indígenas na explicação de fenômenos físicos, na Disciplina Relação com o Conhecimento, do Curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas da Universidade Federal de Minas Gerais (FIEI/UFMG). Iniciamos com a seguinte pergunta: Como Conhecemos as coisas? Buscamos os discursos dos alunos sobre os saberes tradicionais, enquadrados pelo conhecimento científico. Os dados dos debates foram registrados em um diário de campo. Observamos tanto as formas com as quais os alunos explicaram a aproximação entre as duas formas de produzir os conhecimentos em jogo quanto percebemos um momento em que houve certo
distanciamento, gerando um silêncio em sala. O que provocou esse silêncio?Percebemos que, nessas situações, as explicações dos fenômenos fornecidas pelos indígenas não foram consideradas pelos docentes, uma vez que levavam em consideração o pensamento mítico. Isto é, os modelos explicativos se fundamentavam na força da natureza e na espiritualidade. O silêncio dos alunos parece refletir o desencontro no qual as próprias questões dos docentes não tinham significado para os alunos. Inferimos que, nesses momentos, as culturas em
sala se tornam sem contato, exteriores entre si. A educação intercultural é assim compreendida como uma relação tensa entre sujeitos diversos, implicando na ampliação ou redução do espaço simbólico em função da palavra ser ou não asfixiada na escola, propiciando contextos ora mais interativos ora mais silenciosos. Esperamos trazer contribuições para compreender a sala de aula tanto nos cursos de formação docente quanto
na educação básica indígena, em suas dinâmicas culturais.

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Publicado

2019-08-13