Ǥodidigo Kadiwéu: o desenho como uma técnica de memória dos tempos míticos e presentes

Autores

  • Maria Raquel da Cruz Duran

Resumo

Caracterizada por um particular minimalismo figurativo, em que a sugestão é mais frequente do que a demonstração, a arte indígena ameríndia tem sido estudada em seu estatuto e agência, relacionados ao universo cognitivo particular no qual opera. Entrando no campo da sugestão, neste trabalho sugerimos possíveis interpretações do lawile, desenho Kadiwéu traduzido como redemoinho, e que constitui um dos principais desenhos deste grupo, famoso nacional e internacionalmente por sua expressão artística. Tal aproximação com as interpretações a respeito do desenho Kadiwéu, seja ele compreendido como linguagem ou como agência, é fruto de uma pesquisa de doutoramento em Antropologia Social (PPGAS/USP), em fase de conclusão, em que fizemos oito meses de trabalho de campo na aldeia Alves de Barros (Porto Murtinho/MS), e em que esboçamos, para além do lawile, outros vinte desenhos Kadiwéu. Num paralelismo entre conjuntos, de elementos gráficos e de conhecimentos míticos, compreendemos que o ǥodidigo estabelece inúmeras conexões, que não são complementares ao mito, mas sim a mesma coisa. Ou seja, tais desenhos são mitos
gráficos, são uma técnica de memória alternativa à escrita, e como tal agem de forma a reconvocar memórias.

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Publicado

2019-08-15

Edição

Seção

ST14 - Memória, propriedade e silêncio nos arquivos relativos a povos indígenas