A saída da crise brasileira dos anos 1980: a interpretação de Ignácio Rangel
Palavras-chave:
Ignácio Rangel; Recursos Ociosos; Concessões; Serviços de Utilidade Pública; Crise Econômica., Ignácio Rangel; Idle resources; Concessions; Public utility services; Economic crisis.Resumo
Esse artigo analisa a interpretação que Ignácio Rangel fez da crise econômica brasileira dos anos 1980 e, a conclusão a que chega, da necessidade de conceder os serviços de utilidade pública à iniciativa privada como alternativa para saída da crise que paralisou o Brasil, a mais prolongada e grave, desde que iniciou seu processo de industrialização. Para compreendermos a análise que o autor fez desse período, examinamos duas de suas teses: a tese da dialética da capacidade ociosa e a tese da inflação brasileira. Segundo Rangel, as mudanças institucionais entorno da concessão viabilizariam a transferência de recursos ociosos presentes no departamento I (indústria pesada) para a área estrangulada da economia brasileira, os serviços de utilidade pública. Desse modo, criaríamos um forte aparelho de intermediação financeira capaz de levantar e orientar esses recursos ociosos no desenvolvimento do país. No entanto, o que assistimos nos anos 1980/1990 foi a implantação de um modelo que embaraçou a continuidade das transformações pelas quais a economia brasileira vinha passando. Nestas décadas, houve um aumento do endividamento externo, ao invés da utilização da capacidade ociosa. A partir da sua interpretação do capitalismo brasileiro, Rangel desenvolveu um diagnóstico e propôs uma intervenção, mas a história desenrolou-se na contramão do que ele propunha.
This article analyzes Ignácio Rangel's interpretation of the Brazilian economic crisis of the 1980s and, the conclusion reached, of the need to grant public utility services to private enterprise as an alternative to exit the crisis that paralyzed Brazil, the longest and the most severe, since it began its industrialization process. In order to understand the author's analysis of this period, we examine two of his theses: the idle capacity dialectic thesis and the Brazilian inflation thesis. According to Rangel, the institutional changes surrounding the concession area would enable the transfer of idle resources present in department I (Heavy Industry; Intermediate goods industries) to the strangled area of the Brazilian economy, the utilities. In this way, we would create a strong financial intermediation apparatus capable of raising and guiding these idle resources in the country's development. However, what we saw in the 1980s and 1990s was the implementation of a model that embarrassed the continuity of the transformations that the Brazilian economy was going through. In these decades, there has been an increase in foreign debt rather than idle capacity utilization. From his interpretation of Brazilian capitalism, Rangel developed a diagnosis and proposed an intervention, but history unfolded against what he proposed.