REVISITANDO O ENSINO DAS GEO-GRAFIAS NEGRAS
filmes-ilhas contrapontísticas que emergem no chão da escola
Palavras-chave:
geografias, negras, subcomunResumo
Este trabalho aparece como parte da investigação de pós-doutorado e propõe a noção de Geo-grafias Negras a partir do subcomum como uma chave teórico-metodológica para o ensino de Geografia por meio da partilha de experiências escolares que emergem nas Mostras Kino/Estudantis do Programa Cinema & Educação. O ponto de partida é a constatação de que, embora haja avanços na inserção das relações étnico-raciais no currículo, persiste uma superficialidade teórica no trato do racismo como estruturante da espacialidade e da própria noção de território. Tal lacuna motivou uma análise crítica das dez edições da Mostra, buscando compreender como os filmes realizados por educandos e educadores nas escolas públicas constroem práticas pedagógicas sensíveis, políticas e coletivas negras (ou não), que tensionam os marcos normativos do ensino da Geografia. A primeira parte da investigação dedica-se à análise crítica do estado da arte do ensino de Geografia no Brasil à luz das relações étnico-raciais. O ponto de partida é o reconhecimento de que, embora a Lei 10.639/03 tenha provocado importantes deslocamentos nas políticas curriculares e nas práticas escolares, ainda prevalece um esvaziamento teórico quando se trata de abordar o racismo como estrutura geográfica e espacial. As geografias negras permanecem, em grande medida, invisibilizadas nas formações docentes, nos livros didáticos e nos programas oficiais, sendo tratadas de modo fragmentado, folclorizado ou desprovido de crítica histórica. Na segunda parte, introduz-se a categoria de subcomum, conforme elaborada por autores como Fred Moten, Stefano Harney e Denise Ferreira da Silva. O subcomum designa modos coletivos de existência que escapam à gestão e à visibilidade do comum normativo, operando por ruído, improviso e partilha subterrânea. Tais formas de vida interrogam a própria noção de território como estrutura política, propondo em seu lugar zonas de contágio e de escuta sensível — como os “porões”, cineclubes e os corredores da escola. Essa inflexão permite imaginar uma Geografia negra não centrada em fronteiras, mas em encontros não mapeáveis. A terceira parte do estudo analisa, à luz da ideia de afrofabulação, filmes escolares que re-inscrevem o passado e o presente da experiência negra como forma de auto-inscrição no mundo. As obras “Unidos pela Igualdade” e “Pretos e Brancos” são lidas como ilhas contrapontuísticas: montagens espaço-temporais em que o rap encontra o maculelê, a dor se transmuta em riso e o cotidiano das pessoas negras tornam-se narrativa contracolonial escolar.
