O alerta de algumas sociedades de consumo no Ano lnternacional do Planeta Terra
Resumen
Os anos de 2007-2009 serão marcados por iniciativas destinadas a registrar às sociedades em geral que a imensa “nave espacial” na qual vivemos passa por transformações súbitas – além de outras graduais – que fazem parte de interações apenas parcialmente compreendidas. Trata-se das comemorações do Ano Internacional do Planeta Terra, que acontecerão em mais de 50 países, exatamente aqueles que definiram comitês nacionais até o início de 2008. A iniciativa da Organização das Nações Unidas tem o mérito de descortinar para todos – no sentido preciso de “revelar o que está implícito” – uma verdade absolutamente incontestável: vivemos em um planeta finito e, ainda que seja cada vez mais numerosa, a espécie humana precisa conter-se, e melhorar seus padrões de apropriação e utilização dos espaços e recursos existentes.
Aos geocientistas cabe, nas sociedades, a missão de compreender a origem e os padrões de evolução da Terra, explicá-los, e continuamente revisar os modelos existentes, para testar a eficácia destes últimos. O planeta já experienciou no passado diversos episódios de extinções em massa de espécies, que funcionaram – se tomarmos a liberdade de examinar tais processos de modo totalmente radical – como derradeira solução para crises ambientais das comunidades de organismos então existentes.
Até mesmo empresas e grupos sociais em países ditos desenvolvidos parecem ter percebido as evidências de mudança, normalmente rotuladas pelo nome “aquecimento global”, e que na verdade se expandem para muitos outros campos que o conhecimento humano mal consegue adequadamente abarcar. Alertas surgem no interior de algumas sociedades “vorazes” em termos de consumo de recursos e territórios. Em resumo, sabemos cada vez com mais clareza que estamos interferindo rápido demais com as demais espécies e com os mecanismos lentamente construídos na Terra para proporcionar-lhes os meios adequados de sobrevivência e perpetuação.
A revista eletrônica Terræ Didatica reconheceu a importância da difusão ordenada de conhecimentos científicos sobre o planeta em que vivemos e tem se engajado desde o primeiro momento na difusão de informações e realizações do Ano Internacional do Planeta Terra. O presente número encaixa-se com perfeição na linha de alertar insistentemente para o fato de que os recursos terrestres são finitos, como a água disponível para consumo humano. Mais ainda, as aplicações das ciências geológicas estão a exigir dos profissionais, das empresas e das instituições de ensino e pesquisa um foco cada vez mais firme na geração de soluções criativas e eficazes para tratar de importantes temas ambientais.
A revista
É grande a satisfação de registrar que, neste número da Terræ Didatica, a revista eletrônica do Instituto de Geociências Unicamp coloca em prática a proposta de oferecer um canal íbero-latino-americano de comunicação, voltado para a promoção de novas ações educativas nas áreas de Geologia, Geografia e Educação. O espectro de autores, em relação aos números anteriores, continua a se expandir: docentes e pesquisadores de universidades brasileiras e do exterior submeteram trabalhos que participaram do fluxo normal de avaliação e, uma vez aceitos, permitem manter padrão compatível com um periódico aberto de alto nível. Temos pela primeira vez a oportunidade de divulgar contribuições de colegas de Portugal e da Argentina. O artigo entitulado O ensino da Geologia nas escolas secundárias portuguesas, durante o século XIX e primeira metade do século XX apresenta revisão histórica muito bem documentada sobre o ensino de Geologia em Portugal, e o segundo trabalho (El aporte de la geología en investigaciones arqueológicas multidisciplinarias e interdisciplinarias: casos de estudio) descreve minuciosamente várias aplicações da Geologia e das Geociências para estudos práticos em arqueologia. Procurou-se manter, tão fielmente quanto possível, a grafia original dos trabalhos, dentro dos padrões editoriais da revista Terræ Didatica.
O artigo sobre Foraminíferos e bioestratigrafia (...) apresenta síntese muito útil sobre esse grupo fossilífero e seu significado na interpretação de paleoambientes, sendo complementado por exemplos de grande interesse educacional. Outro trabalho descreve resultados de experiências didáticas no ensino médio: Aqüífero Guarani: um retrato 3x4 de gestão e da experiência com estudantes em Ribeirão Preto (SP).
O tema Aqüífero Guarani é de amplo interesse. Em que consiste? Qual sua origem e importância? A Viagem virtual ao Aqüífero Guarani em Botucatu (...) é um exemplo de difusão ordenada de conhecimentos geocientíficos à sociedade. Durante encontro que reuniu mais de 300 pessoas, o roteiro foi impresso na forma de pequena caderneta de campo e orientou excursão de poucas horas de duração, monitorada por geólogos, professores e alunos de Geologia, em sete ônibus mobilizados pela Prefeitura Municipal de Botucatu para transporte de grupos de até 40 pessoas. Muitos gestores ambientais de áreas situadas sobre o Aqüífero Guarani, após tomar contato com conhecimento especializado, renovaram conceitos sobre o significado ambiental da expressão “aqüífero confinado”. Os debates subseqüentes foram positivamente influenciados pelas observações da breve viagem de campo. Em função dos ótimos resultados e do caráter transfronteiriço do Sistema Aqüífero Guarani, que cobre partes do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o roteiro é aqui publicado.
O presente número de Terræ Didatica oferece ainda uma inovação, que esperamos seja útil como alternativa de divulgação educacional. Trata-se de um cordel, incluído na seção experimental denominada Seção Livre; o cordel, elaborado por professores, descreve as aventuras de Riolito, o Vulcão Pernambucano. Finalmente, foi incluída neste volume importante tradução de trabalho originalmente traduzido para o inglês, da autora russa M. S. Potapova, intitulado Geologia como ciência histórica da natureza.
O acompanhamento sistemático dos acessos ao sítio e de downloads de artigos e matérias tem revelado números excepcionalmente altos. Reflete o acerto da decisão de privilegiar o formato eletrônico como meio de difusão de materiais didáticos, recursos educativos, notícias e informações e sugere ainda a alta probabilidade de que o lançamento da revista tenha trazido visibilidade à complementaridade das revistas: Terræ, de caráter científico, e Terræ Didatica. O bom índice de acessos da didática reflete-se no número de servidores que passaram a acessar a científica. Aumentou também a quantidade de servidores que as acessam, indicando que se vem atingindo variedade maior de pessoas. O registro estatístico sofreu interrupções em 2007, o que exigirá esforço adicional para manter atualizado o acompanhamento.
Esperamos que a edição da revista seja bem-sucedida no fomento a novas experiências pedagógicas e continue a estimular a inovação e o intercâmbio de metodologias de ensino e práticas educativas. Seguimos empenhados em interligar o ambiente acadêmico com a divulgação das Ciências da Terra e, com esse propósito, fazemos novo convite à comunidade para produção e submissão de materiais didáticos originais e criativos para divulgação das Ciências da Terra.