Sentir-se em casa: domesticação no domínio comportamental aves-humanos

Autores

  • Beto Vianna

Resumo

Considerar a domesticação como processo ou resultado de uma interação instrutiva, em que humanos especificam a dinâmica estrutural de outros organismos, nos cega para os afetos mútuos envolvidos. Sem negligenciar o peso político das narrativas de progresso e controle, em que a domesticação marca a passagem da natureza à cultura, podemos estar atentos à diversidade de modos de relacionar nos domínios que tradicionalmente distinguimos como domesticação. Como processo, domesticar é tanto trazer para perto quanto lançar-se na direção do outro, espaço em que os organismos estabelecem uma dinâmica de ser-com, como condição da conservação de sua organização de ser vivo. Como resultado, a domesticação não garante
corpos e disposições de determinado tipo. Traços como docilidade, submissão ou dependência poderão ou não surgir em coerência com as relações coontogênicas estabelecidas, em que organismos com modos de vida distintos criam, juntos, um sistema social de segunda ordem. No Parque dos Falcões, espaço que acolhe aves de rapina, os encontros entre esses animais e os humanos ensejam diversas explicações, científicas ou não. Enquanto os cuidadores do Parque utilizam elementos da etologia, da falcoaria e de tradições locais, as aves contribuem com suas próprias disposições para os processos continuados e particulares de domesticação, humana e não humana, propiciados por tais encontros.

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Publicado

2019-07-17

Edição

Seção

ST 07 - Técnicas e tecnologias da domesticação: dilemas e transformações nas relações entre humanos e animais