AyauhuayA: Convergências entre inconsciente, espiritualidade e arte
Resumo
O trabalho aqui apresentado é parte da produção poética desenvolvida no doutorado em Arte e Cultura Visual do PPGACV/FAV-UFG. A pesquisa é calcada nos processos criativos de histórias em quadrinhos a partir de Estados Não Ordinários de Consciência – ENOC. A investigação se deu na linha de pesquisa de Poéticas Visuais e Processos de Criação, assim, ela se estende também para a prática artística, ou seja, fazer quadrinhos. No caso, criei colaborativamente histórias que estão no escopo da Arte Visionária, por se dedicarem a retratar visões obtidas por meio de ENOC. Em 2001 o artista visionário Laurence Caruana instituiu o movimento ao publicar o Primeiro Manifesto da Arte Visionária, definindo ser este todo tipo de trabalho artístico que intenciona retratar visões obtidas por ENOC. Por meio do entendimento do artista, incluo a HQ aqui apresentada como visionária por ela ser a representação, ipsis litteris, das visões obtidas por ingestão de Ayahuasca – decocção indígena de folhas (Psychotria viridis) e cipó (Banisteriopsis caapi) com propriedades psicodélica e usada em rituais espirituais – com uso legal e regulamentado no Brasil. A ingestão do chá foi realizada durante uma cerimônia xamânica, o qual acabou por – de uma maneira ou de outra – influenciar a experiência. A história selecionada para apresentação é intitulada AyauhuayA, sendo vista e escrita por mim e ilustrada por outro artista (também experiente em ENOC), chamado Vinicius Posteraro. No
entanto, ele não participa do corpo da pesquisa em si, por esta ser uma autoetnografia. A busca investigativa se baseia em questões como: existem diferenças entre o ímpeto criativo tradicional em contraposição ao visionário? Como descrever, por meio do roteiro, o indescritível para o desenhista? Previamente apresento as seguintes respostas: existem sim diferenças entre os processos criativos, principalmente a falta de controle sob as visões e todo o penoso processo do ritual em si que acaba por dar novos significados para as visões. Tanto a experiência vivenciada durante a cerimônia quanto a narrativa, fruto das visões, coadunam sentidos espirituais, reflexivos (filosóficos) e de certa maneira mágicos, por se tratar de uma poção sagrada e tida como viva consumida em contexto ritualístico.