Experimentações preliminares a caminho de uma etnomusicologia de multiespécies

Autores

  • Hugo Maximino Camarinha

Resumo

Quando a compulsão humana consegue modificar a biota/paisagem de uma região do planeta — compulsão traduzida pela monomania “agro pop”, pecuária, garimpos/mineração, extração de madeira, etc. — e que, em função desta o clima, por exemplo, é alterado, o anthropos pode ou precisa ser tomado como agente geológico? Pelo Menos, parece ser essa a questão, que determinada proposta recente outorga. Tema, que à luz de alguns estudos, tem tomado algum espaço no debate antropológico. Para os Ka’apor (Povo de língua Tupi, habitantes da Terra Indígena do Alto Turiaçu no Maranhão) desde suas narrativas ou mitos de criação, pessoas surgiram do tronco de algumas árvores, sendo estas o pau-brasil, jatobá e do pau-d’arco. Nomeadamente,
o herói mítico e avós ancestrais, Mair, Trotó (ancestral Ka’apor segundo discurso mítico) e Kapiõ
(ancestral dos Urubu-rei) (Geraldo Ka’apor, 2011, p. 17-20). Implícita a importância concedida
por este povo aos seres de caule lenhoso do reino vegetal, uma vez que sua origem lhes está
diretamente associada. Afronta colossal quando a “alienação que transforma […] seres em recursos” (tsing, 2015, p. 2–34) lhes tem tomado entre outras o jatobá, o pau-d’arco da TI do Alto Turiaçu. Aqui implícita a devastação das “paisagens e ecologias” que nos fala a autora (Ibid.). Posto isto, minha intenção nesta exposição será mesclar uns poucos enunciados relativos ao “Antropoceno” e em sequência refletir sobre algumas categorias vigentes na antropologia (Xamanismo = antropomorfismo versus antropocentrismo: Prelúdio ontológico) com o objetivo de experimentar alguns cruzamentos entre tais predicados e alguns pontos de minha pesquisa sobre música e xamanismo Ka’apor. Ideias que vejo como contributo (ainda que longínquo) a uma possível etnomusicologia de multiespécies (aqui influencia clara (Hill, 2014, p 39) quanto
a uma etnografia de multiespécies) .

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Publicado

2019-07-17

Edição

Seção

ST 02 - Conexões transversais entre a Antropologia da Ciência e Tecnologia e a Etnologia