Sobre ser uma fêmea chimpanzé: a primatologia e as naturezas da diversidade sexual
Resumo
A emergência da primatologia moderna, que previa construir a história evolutiva do Homem a partir do estudo de primatas, é devedora de seres descreditados de uma humanidade: as mulheres e os chimpanzés. Jane Goodall foi uma das pioneiras no estudo de primatas em seus ambientes nativos e traz a narrativa de uma chimpanzé, a Gigi, que se comportava de forma semelhante a um macho de sua espécie. Margaret Mead situou os padrões sexuais na cultura, e talvez chamaria Gigi de “inadequada”. Mas a antropologia tem dedicado esforços em denunciar o etnocentrismo e o antropocentrismo contidos na concepção de Homem, oposto à natureza – nesses parâmetros, a chimpanzé incompleta como fêmea não teria nada a contribuir a uma
natureza entendida em termos de sua utilidade estrita ao enriquecimento daquele sujeito universal. Entretanto, narrativas primatológicas podem oferecer histórias alternativas. Seria possível, assim, pensar uma diversidade sexual natural-social, que enriqueça animais com humanos?