“Isso não é água, é uma bênção que veio pro Nordeste”. Disputas pela água no contexto da “Transposição do Rio São Francisco”
Resumo
Estes escritos pretendem explorar algumas das formas de relação com a água e a seca trazidas à tona pelo “Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional” - nome institucional da obra popularmente conhecida no Brasil como “transposição do São Francisco”, que trata do redirecionamento de parte das águas desse rio que cruza o semiárido da região Nordeste do Brasil. Desde o século XIX, a “transposição do São Francisco” vem sendo defendida por sucessivos governos brasileiros como alternativa para o “combate à seca”, “melhoria dos problemas do Nordeste”, “garantia da segurança hídrica das populações”, “solução para o sofrimento do povo”, dentre outras justificativas. Enredadas a tais
defesas estão controvérsias que tratam de alternativas à transposição para o suprimento de água no semiárido, denominam o projeto de “hidronegócio”, pregam ideias de “convivência com o semiárido” e tomam como denúncia uma “indústria da seca” no Nordeste. Por certo não se trata de abordar essa temática de maneira binária, mas de, ao expor algumas das controvérsias, tratar grandes obras como a da transposição do São Francisco sob a perspectiva do risco.