Nas texturas da terra: movimentos e práticas conhecimento entre os quilombolas do Vale do Ribeira
Resumo
Nesse trabalho proponho refletir como o processo jurídico-burocrático de autorreconhecimento quilombola se constitui a partir da interseção de saberes e lógicas distintas de percepção do tempo e do espaço. Com base em uma experiência etnográfica entre os moradores de Pedro Cubas, um “Remanescente de Quilombo” situado no Vale do Ribeira (SP), e nas peças técnicas que compõem o procedimento de demarcação de suas terras, busco descrever de que maneira esse encontro entre tecnologias e técnicas sensíveis de percepção espacial toma forma e é estabilizado nos documentos. Argumento que o que os habitantes de Pedro Cubas oferecem como trilha para se pensar não se curva à acomodação do tempo linear, do território como superfície ou da genealogia, tal como descrevem os documentos oficiais. Mas que no ato de fabricar fronteiras e estabelecer direitos territoriais, esse modo singular de organizar o mundo, que é acionado por antropólogos, historiadores, cartógrafos e agrimensores; também opera em seus quintais, no movimento que potencializa a luta pelo território. O presente texto propõe, assim, pensar tanto nas imbricações dessas distintas lógicas,
quanto nos processos de estabilização, a partir de um exercício de escrita antropológica que opere
torções, comparações e contrastes entre os distintos materiais etnográficos.