Sobre legumes, lazer e turismo: modos de habitar e constituir paisagens entre vazanteiros no médio Parnaíba
Resumo
A labuta nas vazantes do médio Parnaíba, em Teresina-Piauí, começa cedo da manhã: seu Valdir pega a bicicleta e cruza a Avenida Boa Esperança em direção ao rio - na zona norte da cidade –, desce um caminho estreito, atravessa a criação de porcos do vizinho até chegar na vazante. A partir das experiências de seu Valdir e de outros agricultores com os ambientes que lhes constituem e ao mesmo tempo são constituídos por eles, discutirei formas de habitar empreendidas por estes vazanteiros em interação com a região da Avenida, enfatizando não só as vazantes e suas relações constitutivas, mas os processos de constituição das próprias residências e os conflitos com outros projetos de paisagem lá agenciados. As interações entre pessoas, casas, sementes e legumes gestados no lugar agenciam modos particulares de percepção do ambiente e configuram-no enquanto uma paisagem de vida, morada e trabalho. Estas formas de habitar têm sido alvo de políticas de
requalificação urbana empreendidas pelo Programa Lagoas do Norte (Prefeitura Municipal, em parceria com o BIRD). Tal iniciativa coloca em agência devires de paisagens marcadas pelo lazer e pelo turismo, classificando, ainda, como crimes ambientais os engajamentos entre vazanteiros e vazantes. Neste cenário, o que me proponho a fazer é captar as práticas, conhecimentos e interações constituintes destes distintos tipos de paisagem, colocando em perspectiva, inclusive, as diferentes relações de força e poder implicadas nestes processos.