A caminhada guarani e suas paisagens
Resumo
Minha proposta para este seminário é (entre)tecer uma trama paisagística a partir de relatos dos Guarani-Mbya sobre a Yvy Rupa, a “plataforma terrestre”. Escolho três tempos, momentos e/ou aspectos que possam orientar nosso olhar: a criação do mundo por Nhanderu Tenonde (principal divindade do panteão Guarani), as caminhadas dos que seriam os futuros Nhanderu Mirim (aqueles que chegaram na chamada Terra sem Mal, seres humanos que se tornam imperecíveis) e a atualidade. O intuito é (re)verter o ponto de vista a respeito do espaço/território brasileiro, no caso específico do litoral sul da mata atlântica, ao vislumbrá-lo por meio das paisagens guarani, deslocando igualmente a minha posição de enunciação enquanto antropóloga ou intérprete, em direção à posição de tecedora dessas histórias. Em outras palavras, tentarei explicitar nas falas Guarani a trama que revela uma paisagem constituída de avatares míticos e incidências xamânicas, a qual tem sido sistematicamente invisibilizada pelos diversos interesses económicos que assediam, não direi somente as terras Guarani, mas a territorialidade cosmopolítica da própria Yvy Rupa, ou seja, as redes de relações que
inter-ligam, de maneiras complexas, seres das mais diversas ontologias. As “falas Guarani” que quero
entretecer foram produzidas no contexto de um projeto de formação de jovens pesquisadores Guarani
de Santa Catarina, no marco do Inventário de Referências Culturais Guarani do IPHAN, em parceria
com o Centro de Trabalho Indigenista.