Do Particular ao Articular: Yanomami do Homoxi frente às florestas degradadas pela corrida do ouro (1987-1998 e 2013- presente)
Resumo
A Terra Indígena Yanomami tem no Homoxi, nas cabeceiras do Rio Mucajaí a região mais extensamente degradada pelo garimpo, durante a febre do ouro em 1988. A história desse episódio está relativamente bem documentada em MacMillan (1995) e em Albert & Tourneau (2005). O processo que venho a descrever nesse texto é sobre os modos de ocupação da floresta pelos Yanomami, relacionados à mobilidade e sobre a
paisagem comumente resultante, incluindo áreas de regeneração das antigas clareiras de roças, que incorporam cultígenos com espécies adaptadas à situação pioneira, incluindo cogumelos, insetos e outros apreciados alimentos para os Yanomami. E sobre como esses processos criadores de novas paisagens, se transformam com a degradação causada pela corrida do ouro no Homoxi. Bruce Albert afirma ao final de seu artigo que, contra as aparências detectadas pelas equipes de saúde, os Yanomami do Tirei, aqueles
que permaneceram na região degradada, sempre em busca dos utensílios e ferramentas dos napëpë (não Yanomami), exerciam uma ação dentro das dinâmicas de troca e aliança comunitária dos Yanomami; proponho aqui desenvolver um pouco mais esse argumento, apresentando evidências a partir da observação etnográfica dos anos em que trabalhei com eles (2002-06), e juntando com informações da história da paisagem no Homoxi, entre 1988 e hoje, com base na interpretação de imagens orbitais, dados da mobilidade e
testemunho de campo.