Cosmopolíticas do cotidiano e os coletivos de hortas urbanas comunitárias de São Paulo
Resumo
Este trabalho é fruto do estudo em curso de uma prática que nunca se perdeu, mas que reaparece com força e imersa em novas experimentações: a agricultura urbana. Temos como foco de estudos as “hortas urbanas comunitárias” da cidade de São Paulo, agrupamentos de voluntários que se reúnem periodicamente para criar e manter espaços de plantio de espécies vegetais e refúgio de espécies animais em meio ao concreto urbano. Situadas em locais públicos, praças, terrenos abandonados da prefeitura, canteiros em meio a grandes avenidas, as hortas de São Paulo fazem emergir discussões sobre ecologia, política, socialidade, troca de saberes; são experimentos que contemplam formas diversas de agir na, para e com a cidade. A intenção dessa análise é apreender o movimento propiciado pela prática das hortas comunitárias em uma perspectiva de entrelaçamento entre humano e ambiente. As técnicas utilizadas e valorizadas pelas hortas urbanas paulistanas trabalham com preceitos como a agroecologia, a sintropia, a agrofloresta, as bioconstruções, a permacultura, em que o protagonismo está na interação homem/ambiente, e não no controle de um sobre o outro. Queremos, à luz de nomes como Isabelle Stengers, Félix Guattari, Bruno Latour, Donna Haraway,
pensar as hortas como coletivos humanos-não-humanos que, juntos, explodem em uma maneira de fazer política que se aproxima muito mais das noções de cosmopolítica ou política do cotidiano, trabalhando sob uma ótica mais relacional e menos acelerada, que, ao mesmo tempo, se torna uma perigosa prática de autonomia.