Habilidades e percepção: práticas de “tratar abelhas” no sul do Brasil.

Autores

  • Patrícia Postali Cruz

Resumo

Este trabalho aprofunda algumas reflexões a partir de pesquisa que vem sendo realizada com famílias de agricultores ecologistas em Pelotas e região, Rio Grande do Sul, durante a realização de práticas relacionadas à colher, plantar e tratar animais. Em função de a pesquisa abordar diferentes atividades realizadas cotidianamente nas propriedades rurais, este artigo focará em uma prática específica, a qual faz referência ao “tratar as abelhas” – uma cadeia de cuidados para facilitar o desenvolvimento das abelhas. “Tratar abelhas” envolve habilidades e um engajamento perceptivo que denota uma relação rítmica com ventos, chuvas, fases lunares e solares, períodos de dia e noite. A relação entre humanos e abelhas se estabelece por aspectos comunicativos desenvolvidos em diferentes vias. Os ciclos de chuva e sol, por exemplo, indicam ao agricultor a possibilidade de uma boa ou má colheita e também da necessidade, ou não, de o agricultor ter de oferecer alimento às abelhas. Há fases da lua que é mais adequada a extração de mel. Em certas fases as abelhas ficam
bastante agitadas e brabas, o que dificulta o trabalho direto com as abelhas, como extração e/ou limpeza das caixas. Nesse sentido, problematizo as noções de percepção e ritmos a fim de compreender a relação e as vias de comunicação entre coletivo de humanos, com seu conjunto técnico, e coletivo de não-humanos - abelhas, chuva, sol, umidade, dia e noite. Assim, o trabalho etnográfico estabelece uma discussão sobre a contínua incorporação de habilidades, constituídas a partir de experiências perceptivas, aos processos de “tratar abelhas”.

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Publicado

2019-08-12