Cultivando agências: o uso de sementes crioulas como prática de cidadania tecnocientífica
Resumo
Buscamos investigar, a partir de uma perspectiva que entendemos “relacionista”, as formas através das quais não-especialistas agem no sentido de produzir conhecimentos e técnicas, suscitando processos participativos e cidadãos de reação e reapropriação frente a sistemas tecnológicos hegemônicos. Para tanto, esboçamos uma análise interessada na utilização de sementes crioulas por parte de agricultores que, supomos, inventam formas de associação e inovação que interferem no desenvolvimento da tecnociência vinculada ao agronegócio. Com base em autores como Gabriel Tarde, Gilbert Simondon, Gilles Deleuze & Félix Guattari e Andrew Feenberg, propomos primeiramente sistematizar o que denominamos “sociologia relacionista”, que acreditamos abrir possibilidades epistemológicas e políticas para pensarmos os objetos técnicos não de forma fixa e essencialista, mas enquanto processos abertos, como frutos de um conjunto de regulações governamentais, interesses de mercado e pesquisas científicas, e também sujeitos a agenciamentos e reapropriações “de baixo para cima”, por parte de agentes ditos leigos. Além disso, ensaiamos um estudo sobre o manejo agroecológico de sementes crioulas por agricultores de diversas paisagens geográficoambientais de Minas Gerais como alternativa ao sistema técnico-econômico convencional de
produção e venda de sementes. Acreditamos que o “relacionismo” possibilita a compreensão de experimentos de “cidadania tecnocientífica” engendradas por não-especialistas, produtores de conhecimento, de relações econômicas e de agenciamentos técnicos contra-hegemônicos.