Os processos de aprendizagem além da dicotomia entre natureza e cultura
Resumo
O presente trabalho é um desdobramento da nossa pesquisa de doutorado, intitulada: O sabor dos saberes e a poiésis das merendeiras escolares; defendida em 2015, na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Na presente comunicação, buscaremos nos debruçar sobre a problematização dos processos de aprendizagem, porque é preciso operar uma problematização, uma descolonização e um “descentramento antropológico” dos processos aprendentes, pois, costumamos compreendê-los como fenômenos logocêntricos, limitados ao raio de ação dos humanos. Nesse sentido, é como se o mundo fosse habitado e formado apenas por humanos, e como se todos os outros seres e coisas que ajudam a compor e habitar o mundo não passassem de meros coadjuvantes. Nessa perspectiva logocentrada e antropocêntrica, apenas os humanos são vistos/tidos como protagonistas e dependentes da aprendizagem. Assim, a aprendizagem é tida como a característica distintiva do ambiente humano e como o fundamento da esfera cultural. Vista como
o ponto de corte que dicotomicamente separa natureza e cultura, este processo ocorre através da seleção e eleição de esquemas e princípios classificatórios, tido como confiáveis e mais eficazes, que consigam criar modelos e sistemas científicos e filosóficos válidos. É por causa da valorização da lógica abstracionista e de um simbolismo tido como “erudito”, que o processo alimentar é colocado como resto e descartado como algo sem importância no processo da educação. Pois a alimentação é um processo liminar, que não se deixa enquadrar facilmente nas delimitações classificatórias. Essa depreciação dos alimentos, na educação, possui um impacto direto sobre a forma como as merendeiras são vistas e tratadas em seus contextos de trabalho.