Neurobiologia das plantas: uma perspectiva interespecífica sobre o debate
Resumo
Neste trabalho, apresento um balanço do debate ocasionado pelas ideias suscitadas nas Ciências das Plantas com o advento da Neurobiologia das Plantas - NBP, destacando a partir das tensões geradas os elementos do que Hustak & Myers (2012) chamam de “uma narrativa mais rica”, além do enfoque redutivo da biologia contemporânea sobre células e genes, ou de uma lógica evolucionista neodarwiniana exclusivamente adaptacionista, e com maior atenção ao organismo e seu comportamento no ambiente. Uma narrativa que também dê conta do modo como as plantas se expressam e permita desvelar os emaranhados nos quais plantas e cientistas estão envolvidos. Inspirado nas ideias introduzidas no campo interespecífico pelas Etnografias Multiespécies, minha hipótese é a de que estas tensões, sozinhas ou combinadas, sugerem modos de acessar a perspectiva das plantas. Assim, em um primeiro momento, introduzo os pressupostos gerais que orientam a NBP, as críticas recebidas e as respostas subsequentes. Com o debate em curso, a discussão sobre o
comportamento inteligente das plantas atraiu pesquisadores de outras áreas para o assunto, que passaram a experimentar outras abordagens teórico-metodológicas no estudo do tema. Em um segundo momento, portanto, apresento alguns artigos chaves para ilustrar esse movimento para em seguida destacar as tensões entre esses três blocos – proponentes da NBP, cientistas críticos à proposta, e outros pesquisadores que se dedicam ao tema da inteligência das plantas. Por fim, demonstro como essas tensões sugerem modos de acessar a perspectiva das plantas a partir dos modos de relação que instauram e dos emaranhados de que participam.