A relação entre o mundo e os narradores do mundo: a cosmologia fractal como alternativa conceitual ao antropocentrismo
Resumo
Cosmologias são, entre outras coisas, visões parciais sobre a relação entre o mundo e seus habitantes. A cosmologia científica costuma ser definida no “Princípio cosmológico”, que afirma que o universo é isotrópico e homogêneo, assim sempre foi e será, e sustenta um paradoxo que diz a um só tempo: i. que não há nenhuma razão para supor que a visão da Terra é privilegiada ao olhar para o Universo e ii. que olhar da Terra é o mesmo que olhar de qualquer lugar do Universo. Se por um lado a cosmologia científica se propõe nãoantropocêntrica tal como foi a geocêntrica pré-copernicana, por outro parece ser um novo tipo de antropocentrismo. A antropologia contemporânea que toma as cosmologias no plural se encontra em situação semelhante? Ao
rechaçar a visão “ocidental” tomada por científica e propor uma perspectiva “um mundo-múltiplas visões de mundo” derruba-se um antropocentrismo e coloca-se outro em seu lugar? Múltiplas visões de mundo não tornam universais a projeto moderno tipicamente ocidental onde a cultura é o lugar do subjetivo-múltiplo em contrapartida a uma natureza imutável? Qual o lugar do humano no mundo quando tomamos parte e todo como Strathern, isto é, sem precedência ontológica e numa lógica relacional? Se as cosmologias debatem
como se dá a relação entre o mundo e seus habitantes, uma alternativa parece surgir na construção de um conceito de cosmologia que leve em conta a escala e a complexidade das relações e não separe parte e todo, indvíduo e sociedade, Terra e Universo, humano e mundo. Esse trabalho propõe a noção de cosmologia fractal como alternativa conceitual possível para as armadilhas que as oposições parte x todo e singular x plural criam.