Entre a cozinha e o laboratório, controvérsias: algumas reflexões sobre a gastronomia, o cozinhar, os cozinheiros e as agências que os cercam
Resumo
Esta proposta é produto de um breve estudo de caso que pretende refletir sobre as práticas, as agências e as ações que podem estar engendradas no ato de cozinhar. Quando partimos da premissa de que a comida é um produto da cultura, podemos inferir que tudo aquilo que a ela se liga poderia ser também pensado enquanto tal. Contudo, o que uma produção culinária pode carregar para além das próprias relações humanas que a tornam, histórica e cotidianamente, concretude de um exercício de imaginação? Frente a este questionamento, temos como proposta expor, observar e analisar uma receita culinária que, em 2010, foi preparada e apresentada em um famoso concurso internacional de gastronomia – o Madrid Fusión –, para além de descrever e pensar parte da também afamada trajetória do chef que a elaborou, apresentou e que, antes disso, já era internacionalmente reconhecido como o mentor de um novo movimento nas cozinhas e na gastronomia. Estamos tratando, respectivamente, do caviar esférico de melón, Ferran Adrià e a gastronomia tecnoemocional. Seguindo o intento de analisar as práticas em questão por meio de suas materialidades, recorremos à Teoria Ator-Rede (TAR) para explorarmos as associações entre as diferentes entidades que compõem o caviar esférico de melón. Dessa forma, podemos fazer um exercício de aproximação e afastamento entre cozinheiros e cientistas; comidas e controvérsias; gastronomia e ciência; cozinhas e redes sociotécnicas ou, até mesmo, cozinhas e laboratórios.