O parentesco conformado na experiência soropositiva: uma abordagem antropológica sobre a transmissão vertical para o HIV na perspectiva crítica dos estudos de gênero
Resumo
A temática acerca do parentesco representa um campo de discussão que remonta desde autores clássicos da antropologia, como Lévi-Strauss, a perspectivas antropológicas contemporâneas. Cruzando este debate à crítica dos estudos de gênero, novas questões foram sendo problematizadas, o que corroborou na dessencialização e desnaturalização do parentesco. Neste sentido, a discussão acerca da Transmissão Vertical para o HIV, provoca ressignificar um “parentesco impensável” – devido a contaminação das secreções e fluidos corporais ao vírus do HIV – como uma possibilidade cada vez mais efetiva no processo reprodutivo. Tal discussão acena à disputa sobre os domínios da natureza x cultura, tão cara à antropologia. Acentua também, neste processo, a forma como o corpo, a sexualidade e até mesmo os fluidos corporais tornam-se manipuláveis por intervenções de tecnologia biomédica. Em consonância as questões acima expostas, objetiva-se relacionar a forma como a temática da transmissão vertical tem tido aparições na etnografia realizada numa “rede” de
jovens soropositivos, mediante a discursos médicos e experienciais, à crítica dos estudos de gênero, que potencializam o debate antropológico acerca do parentesco.