A licenciatura intercultural indígena como ponte entre domínios ontológicos: reflexões a partir dos modos de conhecer Paiter
Resumo
Este trabalho busca apresentar algumas experiências dos Paiter em licenciatura intercultural indígena e projetos de patrimonialização dela resultantes e discutir em que medida se configuram como ferramentas com potencial reflexivo e agentivo capaz de promover ou não um diálogo entre domínios ontológicos distintos. Como a formação acadêmica destes professores tem impactado em suas reflexões críticas e em suas práticas de ensino-aprendizagem? Como essas reflexões e práticas resultantes dialogam com a ontologia e os modos de conhecer entre os Paiter? Uma via de acesso para responder tais perguntas parece estar nas novas e criativas conformações práticas e conceituais que assumem seus projetos de políticas culturais, desde a educação escolar até a patrimonialização cultural. Por isso pretendemos investigar especificamente três experiências: (1) reflexões de ordem conceitual e prática contidas nos seus trabalhos de conclusão em cursos de licenciatura intercultural indígena; (2) suas consequências para o ensino do português e da língua Paiter nas escolas a partir da normatização escrita; e (3) um projeto de patrimonialização idealizado por um professor Paiter a partir de sua formação na licenciatura, chamado Labğup que culminou na criação de um museu-escola. Cada uma dessas experiências revela, à sua maneira, conflitos ontológicos que são fruto do encontro entre os regimes de conhecimento euro-americano e ameríndios. Por isso, além de inspirarem estratégias políticas criativas dos Paiter quanto ao manejo dos modos de circulação de seus conhecimentos, essas experiências também alimentam uma crítica a práticas epistemológicas e a processos de aprendizagem pressupostos em ambos os regimes de conhecimento.