A nutrição, a saúde pública e a etnografia: construindo a fome múltipla

Autores

  • Lis Furlani Blanco

Resumo

“Será que podemos falar que a insegurança alimentar grave é um pleonasmo para fome?”Essa pergunta, proferida por uma nutricionista em um congresso de pesquisadores em segurança alimentar, foi o ponto de partida para pensar sobre o tema desta proposta de apresentação, isto é, a fome enquanto múltipla, promulgando políticas públicas e fazendo e sendo feita pelo Estado.No entanto, apesar de parecer uma pergunta simples, as categorias implicadas acerca da fome, e mais ainda os diferentes saberes que cada uma dessas categorias mobiliza, propõem uma relevante reflexão sobre o tema da comida e das políticas públicas de combate à fome.Tendo como pano de fundo minha pesquisa de doutorado, na qual pretendo partir da análise da trajetória do programa Fome Zero em relação à construção da categoria fome para realizar uma etnografia das políticas públicas de Segurança Alimentar e Nutricional, pretendo no presente artigo discutir essas ações governamentais explorando as inter-relações construídas nesse processo, as diferentes arenas em jogo e os diferentes sujeitos políticos, que são criados a partir de uma praxiografia da fome.Desta forma é objetivo central deste texto, inspirada pelas análises de Annemarie Mol, compreender a partir da etnografia de saberes tecnopolíticos envolvidos na criação desta política pública, como a fome é promulgada e em sua promulgação cria sujeitos e coloca em circulação a noção de direitos, assistência, vulnerabilidade e bem-estar social, bem como a definição e criação do próprio Estado. A nutrição, a segurança alimentar e a saúde pública, mas também a própria etnografia são saberes em disputa na construção da fome enquanto múltipla.

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Publicado

2019-08-14

Edição

Seção

ST10 - Entre a Política e a Técnica: práticas de conhecimento em comparação