Aprontamento como cosmopolítica: os corpos e seus outros na religião de Linha Cruzada
Resumo
Esta comunicação apresenta as implicações possíveis entre a composição de corpos (humanos e extra-humanos) na religião de Linha Cruzada, a partir do processo de iniciação na religião (aprontamento) e a cosmopolítica afro-brasileira. Um dos objetivos é fazer um exercício político-epistemológico crítico aos essencialismos que ligam a religião afro-brasileira ao escopo do simbólico e das “crenças”. Discute-se como a iniciação afroreligiosa (que opera diferentes procedimentos e dosagens nos e dos corpos, das substâncias, das forças e do axé) se constitui como possibilidade de relações alargadas com outras agências e devires dos e nos pluriversos e percursos cosmo-ontológicos. Podemos ver corpos não mais individuais, fechados, e sim “dividuais”, “fractais” e abertos às diferenças. O corpo é criado, aprontado, preparado para receber a incorporação e é nos corpos que os acontecimentos irrompem. A conectividade e o jogo das diferenças que compõem a lógica rizomática da Linha Cruzada indicam elementos-chave para compreender outros modos de existência nos quais a política e suas relações envolvem diferentes perspectivas. O texto explicita que o processo iniciático diz respeito à possibilidade de apreensão, composição e afetação entre corpos e perspectivas diversas (entidades, deuses/as, animais, plantas, substâncias, espíritos), aportando-se a vivência etnográfica do autor junto a dois terreiros do Rio Grande do Sul.