Fragmentos de uma rede imensa – o sistema de clãs e metades dos Ticuna

Autores

  • Edson Tosta Matarezio Filho

Resumo

Tendo em foco o maior grupo indígena do Brasil (mais de 46.000 indivíduos), seria impraticável para um único etnógrafo delinear toda a genealogia lembrada pelos Ticuna (AM). Pretendo aqui fazer um exercício semelhante ao que faz um arqueólogo que, com um fragmento de tecido encontrado de uma população já extinta, nos explica como funcionava o processo de tecelagem desta população. A rede genealógica em questão, portanto, tem a peculiaridade de ser apenas um recorte, um fragmento de uma malha gigantesca para os padrões ameríndios. O método utilizado, portando, é induzir a partir de um fragmento desta rede genealógica algumas proposições que considero possivelmente gerais para o parentesco ticuna, que o número de repetições de um mesmo tipo de aliança de casamento é bastante recorrente.Apesar de operarem com um sistema de metades exogâmicas, há uma forte tendência de o sistema de parentesco operar nas comunidades Ticuna com um par ou trio de clãs dominantes numérica e politicamente, que trocam cônjuges majoritariamente entre si. Através do tratamento computacional (Access) de duas genealogias coletadas por mim em campo pude confirmar que a tendência de intercasamentos exclusivos entre pares de clãs é muito presente entre os Ticuna, ao menos para esta amostragem significativa. Isso indica que as unidades trocadoras de cônjuges no sistema de parentesco ticuna, apesar de operar com metades, são alguns pares ou trios de clãs, como mostrarei, identificáveis.

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Publicado

2019-08-15

Edição

Seção

ST16 - Parentesco e tecnologias computacionais: apropriação ou colaboração?