Pequenos picadores: mosquitos como “mais-que-vetores” no alto sertão sergipano
Resumo
Resultado de uma pesquisa de campo de aproximadamente 40 dias distribuídos em 3 meses, este trabalho é parte de uma dissertação ainda em andamento. Trata-se de uma etnografia realizada no Monumento Natural (MONA) Grota do Angico, unidade de conservação (UC) situada no alto sertão sergipano. Os desdobramentos das relações efetivas entre populações humanas e mosquitos são o fio condutor deste trabalho. Na Unidade, não há registros de arboviroses, o que não exclui a possibilidade de suas ocorrências. Somado a isso, elas não foram percebidas ou mencionadas pelos sertanejos como realidade local, o que me fez propor uma abordagem mais-que-vetora para a relação entre eles e os insetos em questão. Constituindo uma paisagem emaranhada de seres vivos ou não, humanos ou não, o MONA está sob constante visita de pesquisadores e turistas do mundo inteiro, além dos agentes do estado – todos, em geral, mencionados pelos sertanejos como os hômi da rua. Entre a preservação e o extermínio de espécies, a rua determina uma série de condutas a serem seguidas pelos sertanejos que habitam o local. Os insetos, então, foram a minha porta de entrada para reflexões sobre questões que emergiram em campo, dentre as quais: a composição dos mosquitos na paisagem e a sua luta, seja lutar por sobreviver no ambiente naturalmente adverso que é a caatinga ou lutar contra o local a que são alocados: parasitas e pragas a serem exterminadas. Este trabalho é, portanto, um esforço de se “falar com” mosquitos, tomando como ponto de partida a maneira como os sertanejos pensam esses insetos. Tais concepções nativas, portanto, potencialmente subsidiam diálogos com uma ciência comprometida a pensar a era de extinções em massa.