O Material dos Espíritos: a teoria da umbanda de Pai Joaquim sobre o intercâmbio mediúnico-vibratório através dos corpos energéticos
Resumo
Para os filhos de Oxalá da Casa de Pai Joaquim (Goiânia – Goiás), o fenômeno mediúnico, seja ele “físico” ou “mental”, acontece através da transmissão de vibrações entre seres intangíveis e pessoas encarnadas. Com o objetivo de compreender essa teoria, apresento a noção nativa de “vibração” – conceituada através da linguagem da física quântica – e a noção nativa da “pessoa” – composta de sete corpos cuja substância é uma energia única modalizada em frequências vibratórias distintas. Argumento que a técnica do processo mediúnico, por meio do qual as pessoas corporificam o sagrado, faz também com que elas próprias transformem-se em “media”, ao materializar, junto aos intangíveis, aquilo que Meyer (2014) chamou de sentido de presença espiritual”. A relevância etnográfica da formulação para o estudo da materialidade nas religiões mediúnicas é evidenciada na mesma medida em que a pessoa-médium torna-se um aparelho mediúnico e um instrumento tecnológico. Na umbanda de Pai Joaquim, o Pai Velho, o Caboclo ou o Erê tomam emprestado um dos corpos da pessoa como veículo para manifestar-se, mas isso não implica que ao corpo seja simplesmente imputado um estatuto de objeto, uma vez que o processo de comunicação entre médium e guia espiritual se estabelece sobre uma relação intersubjetiva. Procuro demonstrar, enfim, que a teoria nativa configura a concepção de “incorporação” de modo bastante diverso da ideia que o termo evoca.