O vivo, o morto, a imagem: a presentificação do corpo ausente nas fotografias familiares do século XIX
Resumo
O artigo parte de antigas fotografias em que aquele que posa porta, junto ou ao lado do corpo, o retrato de um ausente, supostamente um ente querido morto. Essas imagens, produzidas em um âmbito familiar e afetivo desde o advento da fotografia, provocam um vertiginoso jogo entre presença e ausência. A imagem fotográfica é colocada dentro da cena como objeto memorial, compondo uma nova dimensão espaço-temporal na qual vivos e mortos novamente se encontram. A partir dessas imagens, evocaremos a ideia de uma presentificação do corpo do morto, a restituição de uma potência de vida que se produz na relação do vivo com os restos daquele que morre. Trata-se de uma reflexão sobre o que a morte oculta e transforma em imagem, não somente como um jogo de visibilidades, mas, sobretudo, dentro de uma ideia fundamental de presença. A morte seria uma espécie de transição do visível do corpo para um outro estado de visibilidade e presença, constituído a partir da ausência do corpo original. Desde sempre, o homem lida com o desaparecimento de um
corpo produzindo rituais, imagens e monumentos, rastros visíveis e tangíveis que desejam, sobretudo,
evocar o efeito de alguma presença do morto