Medicinas da floresta: conexões e conflitos cosmo-ontológicos
Resumo
Neste trabalho proponho descrever aspectos de um recente movimento em torno das chamadas “medicinas da floresta”, principalmente o nixi pae (ayahuasca) dos Huni Kuĩ (Kaxinawá). A proposta inclui o acompanhamento de trânsitos contínuos entre a “floresta” e a “cidade” do próprio nixi pae, dos chamados ‘pajés’ e de grupos ayahuasqueiros emergentes, evidenciando conexões e conflitos ontológicos. Uma contribuição significativa deste trabalho pode residir em alimentar reflexões no campo ayahuasqueiro a partir de uma proposição cosmopolítica (STENGERS, 2007), que buscará tomar o nixi pae como uma tecnologia de conectividade. Assim, espera-se desdobrar a semântica de termos como cura e medicina por meio da pragmática dos coletivos (de pajés, substâncias, espíritos) em ação: que efeitos estes geram quando agem em rede, o que movimentam,
o que fortalecem, o que é deixado para trás. O nixi pae aparecerá então como peça-chave na ativação
de coletivos ontologicamente heterogêneos, abrindo possibilidades para encontros com a alteridade
em tentativas de composição de espaços de convivência e coexistência.