Por uma abordagem ecológica dos efeitos terapêuticos da ayahuasca
Resumo
A partir de pesquisa de campo em preparos de Vegetal na UDV notei que os efeitos da Hoasca não são atribuídos exclusivamente à Dimetiltriptamina (DMT) presente na Psychotria Viridis e nas betacarbolinas do Banisteriopsis Caapi, mas à mútua aprendizagem entre inteligências humana e Vegetal. Esta concepção assemelha-se com outras indígenas, nas quais a ayahuasca é vista como um Ser cuja ação terapêutica depende de relações entre seres humanos e destes com outros seres. Os recentes estudos em neurociências, por sua vez, apontam a ayahuasca como um promissor antidepressivo da nova geração de tratamentos farmacológicos. A depressão é caracterizada principalmente como um desequilíbrio nas monoaminas cerebrais e os efeitos antidepressivos são avaliados com base nas alterações provocadas pela interação entre a DMT/Betacarbolinas e três neurotransmissores: a serotonina, a norepirefrina e a dopamina. Pretendo traçar diferenças entre tais
concepções sobre a ayahuasca, substância e saúde, refletindo com Ingold, e Matthew Ratcliffe no intuito de esboçar uma abordagem ecológica dos efeitos terapêuticos com a ayahuasca. No caso da ayahuasca enquanto antidepressivo levanto as seguintes questões: quais os limites desta caracterização bioquímica da ayahuasca e da depressão? Quais as possíveis consequências da dissociação dos efeitos da ayahuasca de seus contextos espirituais/terapêuticos? Em que medida esta dissociação abrevia processos reflexivos de aprendizagem entre humanos e plantas ao privilegiar a interação entre substâncias como causa dos benefícios terapêuticos?