Tratamento humanitário dos animais de produção: trabalhadores e gado no frigorífico

Autores

  • Ana Paula Perrota

Resumo

A construção da condição humana na modernidade em oposição à condição animal diz respeito a distinção entre sujeito e objeto. Entretanto as oposições humano - animal e sujeito - objeto compreendem múltiplas relações, mais complexas do que tais dicotomias expressam. Atualmente existe uma série de normatividades que incidem sobre os ambientes de abate dos animais de produção que visam assegurar um “abate humanitário” e as condições de “bem-estar animal”. Esses próprios termos, que dão nome às instruções normativas, já demonstrariam essa complexidade. As preocupações com as condições de vida e morte dos animais são expressas nos termos das preocupações com as dos humanos, demonstrando um embaralhamento dos pares dicotômicos citados acima. A partir de pesquisa realizada em um frigorífico industrial, que contou com visita ao local e entrevistas com funcionários e ex-funcionários, meu objetivo é trazer luz a esse embaralhamento. A ideia é pensar em como a relação entre humanos e gado expõe as ambiguidades entre as categorias sujeito e objeto e deixam claro a fluidez dessa fronteira. Discutiremos, a partir das ações do gado no frigorífico, bem como a partir de como os trabalhadores pensam e se relacionam com os animais, que o gado destinado ao abate transita entre os polos sujeito e objeto. Como veremos, as interações entre humanos e animais conjugam essas duas realidades, e levam em conta o animal como um objeto manipulável, mas que possui também uma realidade subjetiva.

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Publicado

2019-08-15

Edição

Seção

ST24 - Viver entre animais: etnografias da recalcitrância e do consentimento