“Ofensa de cobra”: corpos, venenos e mundos em conflito

Autores

  • Luzimar Paulo Pereira

Resumo

Nesse paper, apresento os temas do temor às serpentes e do poder de seus venenos, tendo como foco os modos pelos quais são descritas e vividas as relações entre homens e animais na zona rural de Urucuia, MG.
Os chamados “causos de cobra” ocupam lugar de destaque no cotidiano dos urucuianos e emergem em situações sociais diversas para tratarem de encontros entre homens e serpentes, sempre pontuados por algum
evento dramático: uma mordida efetivamente ocorrida, seu risco eminente de ocorrer, as sequelas físicas e morais decorrentes ou a morte de um ou ambos os personagens (ser humano e animal). Evocando saberes
específicos sobre serpentes, seus comportamentos e morfologias, além das ameaças que representam aos seres humanos e suas criações, os relatos apresentam os animais enquanto espécies companheiras, seres que possuem existências conectadas e mutuamente constitutivas com os seres humanos. Os “causos” amplificam a ideia de que as interações entre pessoas e cobras seriam responsáveis pelas constituições mútuas dos seres, das formas de socialidade e dos espaços rurais. A própria existência do relato é um efeito da relação interespecífica. Nos “causos de cobra”, o corpo (humano ou animal) ganha bastante destaque. Ele nunca emerge como possuidor de uma essência imutável, mas como resultado de “descobertas” narrativas que decifram sinais de inúmeros contatos entre seres e coisas que habitam um mesmo ambiente.

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Publicado

2019-08-15

Edição

Seção

ST24 - Viver entre animais: etnografias da recalcitrância e do consentimento