Pode o analista ambiental hesitar? Uma etnografia das experiências sentipensantes envoltas na prática infernal de consultoria ambiental em Belo Monte
Resumo
A história da hidrelétrica Belo Monte é a história da produção daquilo que Pignarre e Stengers (2011) denominaram “alternativa infernal”. Projetada inicialmente na ditatura militar, a usina teve seu plano suspenso em 1990, dada a forte oposição de ambientalistas e das comunidades indígenas do Xingu. Contudo, em 1994, o governo brasileiro retoma o projeto a partir do anúncio de um “programa de viabilização sócio-política do empreendimento”. Nesse momento, papel decisivo é dado ao trabalho tecno-científico dos expertsde empresas privadas de consultoria ambiental, os quais buscavam reconciliar a opinião pública contrária à obra sem, contudo, comprometer sua viabilidade econômica. Após três anos de atuação como “analista ambiental” em Belo Monte (entre 2010-2013), o presente texto busca registrar etnograficamente (ainda que de modo parcial) como a perplexidade diante das dimensões destrutivas do capitalismo faz parte da experiência dos profissionais da expertiseambiental, embora contida pelos meios e poderes ilimitados que lhes são concedidos pela prática da política do licenciamento ambiental.