"Linhas de investigação"
homicídios, técnicas e moralidades policiais na gestão de mortos na região metropolitana do Rio de Janeiro
Resumo
Neste trabalho pretendo apresentar alguns dos processos de investigação de homicídios observados no âmbito da Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. O objetivo é refletir sobre como ao longo de relações que envolvem o fluxo entre pessoas e coisas, os policiais responsáveis pela condução de “linhas de investigação” construíam “homicídios”. Os dados etnográficos são provenientes de trabalho de campo realizado ao longo de 2014 e que resultou numa tese de doutorado em Antropologia defendida em 2016 (PPGA/UFF). Meu interesse era compreender como no país onde ocorre o maior número absoluto de homicídios no mundo - em 2014, foram aproximadamente 60 mil casos registrados no Brasil - apenas 6% destas mortes são encaminhadas para a justiça, promovendo uma grande sensação de impunidade em relação ao “crime” de matar alguém. Uma das principais razões atribuídas a esta ineficácia na administração institucional de conflitos que resultam em morte é a ausência de investigação policial. Interessada nessa questão, observei os “homicídios” como categoria central para analisar quais técnicas e moralidades policiais eram utilizadas na gestão de mortos, considerando os procedimentos de investigação e tratamento institucional de mortes na região metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil.