Conferências de cultura
sobre metodologias organizacionais, eleições e produção de representatividade política
Resumo
A partir do caso da III Conferência Nacional de Cultura de 2013, proponho analisar uma série de procedimentos que constituem esse tipo de encontro e que permite que tais reuniões operem e cumpram com sua finalidade – qual seja, a de produzir delegados e propostas “representativas” da “cultura brasileira”. Veremos que, graças à transformação dos muitos “municipais” e “estaduais” das etapas iniciais nos delegados e propostas “nacionais” finais, a própria cultura brasileira é produzida como totalidade a ser representada. Pois, apesar de ser operado uma redução do número de delegados e propostas ao longo do processo, este é percebido como construção e acúmulo, e não como perda ou exclusão, incorporando no reduzido conjunto final a potência proveniente da participação massiva inicial. O curioso é que a garantia de construção de representatividade política é atribuída, em grande medida, à qualidade da “metodologia” e dos procedimentos organizacionais utilizados. Calendário para as etapas; temário; sistemas de discussão e de construção de propostas; sistemas de votação – variados procedimentos mostraram ter efeitos sobre os processos e resultados das conferências e, via de regra, tiveram esses efeitos reconhecidos por organizadores e participantes. Contudo, enquanto uns eram percebidos como “políticos” (caso das eleições), outros o eram como meramente “técnicos”. Proponho, então, pensar a relação entre técnica e política atentando para a eficácia e para os efeitos desses procedimentos, mas também para os usos negociações e disputas que envolvem.