Ética socioclimática como máquina de justiça climática para metamorfosear novas utopias
Resumo
As infraestruturas podem ser caracterizadas como “máquinas políticas” (BARRY 2013) ou como “máquinas antipolíticas (FERGUSON 1990). Os instrumentos climáticos - iniciativas e políticas públicas formuladas por uma diversidade de agentes - são entendidos aqui como máquinas políticas de justiça climática que possuem efeitos na práxis social tanto para humanos quanto para além de humanos. Ao analisar os recentes instrumentos climáticos brasileiros (2019-2021) busquei responder a questão posta por Jensen e Morita: “Como nós podemos viver diferentemente?”. No contexto do colapso climático e a partir da noção de metamorfose social (BECK 2016), da noção de reciprocidade ecológica e justiça multiescala do convivialismo (INTERNACIONAL CONVIVIALISTA 2020) e da ética climática (GRADINER 2017; BROOKS 2020) modelei uma proposta para uma ética socioclimática como pensamento crítico ontoético e ferramenta analítica política. Como pensamento crítico ontoético busquei compreender as iniquidades socioecológicas das atuais estruturas brasileiras do contexto climático. Iniquidades pautadas por princípios éticos antropocêntricos e ecocêntricos. Como ferramenta analítica busquei compreender a formulação de instrumentos climáticos pautados por outras ontologias e outras éticas (KOTHARI et al. 2019), como as ecocêntricas e multicêntricas. Categorias como pluralidade decisória, localidade energética, acessibilidade epistêmica e material, naturalidade planejada e benefício intra/intergeracional (SALMI 2021a, 2021b) se revelaram eficazes tanto como elemento constituinte da máquina de justiça climática como lente analítica para compreensão das moralidades dos agentes formuladores de políticas climáticas no Brasil. Lançaram luzes sobre as atuais máquinas políticas brasileiras ou máquinas de justiça climática - que reproduzem as iniquidades socioecológicas ou produzem outras normatividades que reduzem tais iniquidades no contexto climático contemporâneo - e revelaram éticas emergentes para além da cosmovisão antropocêntrica. A ética socioclimática como máquina política de justiça climática se revela assim como uma possibilidade de deslocar o caminhar antropocêntrico catastrófico para horizontes utópicos emancipatórios (BECK 2016) ao permitir outras alianças entre humanos e além de humanos no contexto do colapso climático.