Saber de Peixe

Escolhendo peixe entre tradição, familiaridade e confiança nas instituições

Autores

  • Clara Tassinari Alves

Resumo

Como se interligam as legislações sanitárias, os controles sobre a pesca, conhecimentos locais e redes de relação e tradição nos mercados públicos de peixe? Esse trabalho visa uma comparação entre a região do Algarve, em Portugal, e Florianópolis, no Brasil, encontrando nos conceitos de confiança e familiaridade uma chave para entender como os consumidores escolhem seus pescados. O crescimento do consumo e a problemática acarretada, assim como a preocupação com a sustentabilidade, reverberaram em uma acentuação de legislações no setor. Para salvaguardar os peixes, os períodos de pesca são controlados, o tamanho mínimo em que o peixe pode ser vendido é estabelecido, e os métodos aceitáveis de pesca são definidos. É nos mercados que os efeitos dessas legislações aparecem ao consumidor. Eles são palco histórico do processo da institucionalização do setor. O crescimento dos centros urbanos leva a necessidade de controle sanitário dos alimentos vendidos pelo Estado, que constrói os mercados. Esses viram símbolo de modernidade. Hoje, os supermercados assumem este espaço; mas nos mercados públicos o consumidor local ainda pode usar seus conhecimentos sensoriais e tradicionais para escolher o peixe. Entre essas legislações sanitárias e controle das pescas, consumidores e vendedores negociam com o Estado. O controle sanitário governamental dá aos consumidores confiança na higiene dos produtos, sistema no qual eles não se veem como peritos. Por outro lado, usam de conhecimentos tradicionais para verificar e interagir com vendedores na escolha do melhor peixe, esse sim, um sistema que conhecem amplamente. Uma familiaridade se estabelece, e canais de informação oficial por ONGS ou governo não substituem as conversas amigáveis sobre tempo, maré e praia. Essas interações corpóreo-sensoriais (toques, cheiros), assim como a exposição dos peixes, possibilitam que usem seu próprio conhecimento para reconhecer um ‘bom peixe’. Os mercados municipais de pescados, assim, conseguem manter sua competitividade com os grandes supermercados pela maneira positiva que encaixam a confiança dos consumidores, as práticas de venda e as regulações institucionais e governamentais.

Downloads

Publicado

2022-04-28