Energopolíticas em crise
pandemia, mudanças climáticas e futuros energéticos no Brasil
Resumo
Onipresente nas sociedades modernas, é difícil imaginarmos um mundo sem energia elétrica. A garantia do fornecimento elétrico é fundamental para o funcionamento dos objetos e sistemas que compõem nosso ambiente e, por isso, crises no setor energético são o pior pesadelo de qualquer grupo no poder. Durante a pandemia de COVID-19 a importância da energia elétrica esteve em evidência por garantir não apenas o trabalho remoto, mas principalmente a sobrevivência de pessoas hospitalizadas dependentes de aparelhos para respirar. No Antropoceno, a energia se torna uma questão de preocupação tanto pelos efeitos dos modos de produção atuais, que impactam de maneira dramática os ecossistemas no mundo todo, quanto pela busca de alternativas às infraestruturas produtoras de carbono para garantir a habitabilidade na Terra. Considerando os enredamentos sociotécnicos e ambientais que constituem o setor elétrico brasileiro, tenho como objetivo apresentar alguns dos impactos da crise pandêmica e climática em seus processos infraestruturais, levando em conta tanto seus aspectos materiais quanto as organizações políticas e os discursos que as imaginam e as constroem. Por um lado, temos uma pandemia que impactou drasticamente a carga de energia do país e os modelos de previsão do setor; por outro, atravessamos a pior seca em mais de noventa anos nos reservatórios das hidrelétricas, as principais usinas que compõem o Sistema Interligado Nacional. Momentos de crise evidenciam os aspectos contingentes e não-técnicos das infraestruturas através de eventos não planejados por seus desenvolvedores e gestores, mas que são parte de sua constituição, as considerando como processos de experimentações ontológicas que criam e recriam relações materiais entre diferentes entes humanos e não-humanos. Assim, que tipo de energopolíticas – relações sociomateriais da energia que pautam o fazer político – estão em jogo quando pensamos as crises sob o Antropoceno e, em particular, a crise hídrica e a pandemia no contexto brasileiro? Que relações podemos estabelecer entre essas duas crises? Que tipos de futuros energéticos começam a ser imaginados e colocados em prática a partir delas? Que desafios elas colocam para a Antropologia das Infraestruturas? Essas são algumas questões que surgiram no percurso de minha pesquisa de mestrado e que nortearão minha apresentação.