Pesquisa com lideranças na tradução do sensível e uma ciência “cuidadã” no enfrentamento à COVID-19 no Nordeste Brasileiro

Autores

  • Ana Gretel Echazú Böschemeier
  • Breno da Silva Carvalho
  • Luan Gomes dos Santos de Oliveira
  • Nathalia Maíra Cabral de Medeiros

Resumo

Neste trabalho, propomos uma exploração epistemológica e política de base descolonizadora, feminista e interseccional da experiência de ciência cidadã no trabalho de lideranças comunitárias, as quais exerceram o papel de bolsistas inscritas/os sob a nova categoria ADC2A do Conselho Nacional de Pesquisas (Portaria 2021) no marco do projeto “Boas Práticas de Enfrentamento à COVID-19 – Tradução e Elaboração de Materiais nos Territórios”. A investigação sustenta-se em problematizações transdisciplinares a partir do diálogo entre a antropologia, a saúde coletiva e os estudos da comunicação e tradução. Levantaram-se questões referentes ao imperialismo linguístico, acessibilidade à informação e o protagonismo das comunidades diante das demandas de tradução de informações estratégicas vinculadas à pandemia. Entendemos que a interlocução das lideranças comunitárias possibilitou uma ultrapassagem na compreensão colonial que trata sujeitos e povos como objetos de estudo. Nossa ciência “cuidadã” inclui experiências sociais e de tradição, ampliando a capacidade de produção de cosmopolíticas diversas: essas vozes instauram no interior da pesquisa novos modos de traduzir o mundo, além de todo o ecocídio colonial. Diante dos contextos de excepcionalismo pandêmico (London, Kimmelman 2020), indagamos: qual é o papel de processos tradutórios descolonizadores e reflexivos em corpos e territórios socialmente vulnerabilizados (Krenak 2019)? A partir de quais sensibilidades foram gestionados os conhecimentos biomédicos, etnobiológicos, históricos e culturais sobre a COVID-19 junto às lideranças comunitárias? Como impactou a experiência do acesso a uma bolsa remunerada na produção de conhecimento local? Quais tecidos de cuidado (Puig de la Bellacasa 2017) e cuidadania foram fortalecidos neste percurso? Nossa aproximação parte de etnografias de encontros virtuais (Kozinets 2014) e do material produzido em oficinas de reflexão junto a lideranças bolsistas de comunidades indígenas, ciganas, pescadoras, marisqueiras, catadoras de materiais recicláveis, lideranças do movimento de pessoas em situação de rua dos estados de Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará (julho 2020 a agosto 2021). Salientamos a importância estratégica de uma ciência que cuida, uma produção do conhecimento baseada em regimes de cuidado, “cuidadanias” (Aler 2011) locais e corpo a corpo, representativas das buscas pelo bem viver de lideranças de povos tradicionais e movimentos sociais durante e depois da pandemia.

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Publicado

2022-04-28