O povo das matas na rede do terreiro

firmando o ponto para os Caboclos da umbanda e da quimbanda

Autores

  • Jean Filipe Favaro
  • Hieda Maria Pagliosa Corona
  • João Daniel Dorneles Ramos

Resumo

Este trabalho tem por objetivo analisar as relações dos coletivos afrorreligiosos com os actantes Caboclos. A etnografia que compõe esse escrito é oriunda dos estudos que ocorrem no terreiro Abaça de Oxalá, que é composto pelo cruzamento das linhas de quimbanda, umbanda e candomblé, dirigido pelo Pai Aldacir de Oxaguiã, localizado em Pato Branco-PR. O local é campo de estudos etnográficos desde o ano de 2016 até a data presente. Os Caboclos são mestres espirituais indígenas que se manifestam nos lados da umbanda (linha da direita) e quimbanda (linha da esquerda), e trazem o devir-indígena na pessoa afrorreligiosa, por meio dos seus nomes (Guaraci, Tupinambá, Jurema, entre outros), das incorporações nos médiuns, dos seus pontos cantados e riscados, dos saberes transmitidos, do agenciamento dos vegetais, e de múltiplas formas. No Abaça de Oxalá a linha dos Caboclos também é nominada de povo das matas, e na umbanda esses entes cruzam suas presenças nas giras com outras linhas, como a dos Pretos-velhos, falangeiros de Ogum e Orixás nagôs. Na quimbanda esse povo emerge pela identificação de Caboclos quimbandeiros, ou Exus e Pombas-giras das matas. Também existem Caboclos que podem transitar entre os lados (direito e esquerdo), tal como, por exemplo, o Caboclo Arranca-Toco, Cobra-Coral e Treme-Terra. Entendemos o terreiro como um ponto de encontro das diferenças, uma encruzilhada que exprime resistência e multiplicidade, destacada pelo modo multidimensional de entrar em conexão com formas cosmo-ontológicas diferentes. Essa encruzilhada é aberta para o povo das matas firmar seu ponto em aliança/cruzamento com outros povos (das almas, das águas, da encruzilhada, entre outros) da rede do terreiro, promovendo bem-estar e curas com memórias, saberes e práticas ancestrais que são atualizadas pelos trabalhos. Nessa conjuntura, a presença indígena dos Caboclos fomenta a fuga do “rosto” branco impresso na lógica colonial presente no município, imerso em narrativas intolerantes e higienistas, que invizibiliza e/ou apaga a memória e os saberes inscritos nos fazeres das populações não ocidentais que nele habitavam e habitam.

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Publicado

2022-04-28