Aprender a articular modos possíveis para seguir a experiência

reflexões a partir de uma etnografia diante de práticas cotidianas digitais

Autores

  • Leonardo Pastor

Resumo

Este texto toma como ponto de partida uma etnografia diante da prática de selfie, realizada durante dois anos na cidade de Salvador, para discutir modos possíveis de seguir a experiência vinculada a práticas cotidianas digitais. O objeto de estudo não foi um ambiente digital específico, ou alguma comunidade em certa plataforma, mas uma prática que se articula diferentemente em distintos espaços, envolvendo uma diversidade de afetos e entidades humanas e não humanas que compõem a experiência seguida. A partir da vivência com este trabalho etnográfico, busco produzir reflexões que auxiliem na formulação de questionamentos voltados para investigações de práticas permeadas por amplas digitalizações da vida cotidiana. Nesse sentido, testo um modo de seguir a experiência que se volta para o acompanhamento de trajetos construídos na interação entre diversos ambientes, plataformas digitais e relações. Discuto não apenas o posicionamento, enquanto etnógrafo, de me manter aberto às possibilidades do que pode surgir em campo, mas também a relação com o que Isabelle Stengers chamou de uma “ética do pensamento” na filosofia de William James: uma abertura para o possível que acolhe o acaso e refuta uma determinação e fechamento do universo, e, ao mesmo tempo, aponta para o nível dos efeitos, obrigando a agir e simultaneamente hesitar diante das possibilidades de experiência. Tendo como inspiração o empirismo radical de James e o pragmatismo especulativo de Stengers, coloco em questão a investigação de práticas digitais cotidianas a partir de uma contínua reconstrução das experiências, obrigando o pesquisador a hesitar diante dessas possibilidades de experiência, desacelerar, adentrar-se no cotidiano, e criar maneiras para responder às questões que emergem na prática.

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Publicado

2022-04-28