Entre tentáculos e braços
o despertar da atenção para novas histórias e laços
Resumo
Situado no campo dos estudos que compreendem a “virada multiespécie” e a “virada ontológica” nas ciências sociais, este trabalho tem como questão central a reflexão sobre os modos de se fazer ciência, dando atenção a perguntas que possibilitem conhecer histórias de involução/coevolução e, assim, quem sabe, contemplar outros laços entre humanos e não humanos. Desse modo, em um contexto de desafios e oportunidades, convivências e ausências despertadas pelo isolamento domiciliar em contexto pandêmico, uma bióloga e uma cientista social, instigadas pela complementaridade de olhares e pelos estudos emergentes da quebra da dicotomia entre natureza e cultura, trocam o perceber pela atentividade, resultando em uma reflexão sobre a ciência e as relações entre natureza e cultura, humanos e não humanos e outras possíveis histórias. Tomamos como ferramenta um documentário audiovisual sobre um(a) polvo – no qual o cinegrafista (inspirado nos autóctones do deserto do Kalahari, que entram “na ciência sutil da natureza”) mergulha e compõe, por instantes, a floresta tridimensional de algas – e empregamos revisão bibliográfica para o desenvolvimento da reflexão. Os resultados dessa abordagem mostram os ganhos de elaborações provenientes do enlace entre tentáculos e braços e das práticas multidisciplinares, que, no contexto dos emaranhamentos entre humanos e não humanos, despertam sutilezas que potencializam a quebra de dicotomias. Afinal, com atenção e tato é possível formular perguntas que possam revelar histórias que propiciem, além da transmissão de fluxo gênico, a contemplação de afetos capazes de garantir a valorização de narrativas que contem quem são esses sujeitos não humanos e quais são as suas muitas formas de se relacionar. Refletimos sobre os relacionamentos (entre humanos, não humanos ou interespecíficos) como sendo transformadores e, portanto, inimigos do projeto de “escalabilidade”, isto é, da noção hegemônica de progresso, expansão e colonialidade/biocolonialidade.