Përɨsɨ
considerações sobre possíveis alianças entre mundos divergentes
Resumo
Em 2019, foi publicado um livro no qual as mulheres yanomami apresentam à ciência uma nova espécie de fungo, usado para enfeitar seus cestos. Intitulado Përɨsɨ: o fungo que as mulheres yanomami usam na cestaria, o livro é fruto de uma pesquisa intercultural com dois biólogos do Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (INPA) e faz parte da série Saberes da Floresta Yanomami, feita em parceria com o Instituto Socioambiental. No livro, o përɨsɨ é apresentado desde a perspectiva das mulheres da região de Maturacá, no Amazonas, mas em diálogo constante com os cientistas do INPA, dando origem a uma explicação que remete à racionalidade científica, sem se confundir com ela. Ao final, os micólogos descrevem e fazem o registro formal da nova espécie, nomeada Marasmius yanomami em reconhecimento à origem desse saber. Assim, tomando a proposta do livro como ponto de partida, apresento uma reflexão sobre as possibilidades ensejadas pelo diálogo entre os conhecimentos científicos e os conhecimentos ditos tradicionais: o que tal diálogo pode nos dizer sobre a construção de um mundo comum que não apague as diferenças? Em que medida a publicação em questão opera uma diplomacia entre mundos? Minha proposta é refletir sobre tais questões por meio de uma pesquisa bibliográfica, considerando a impossibilidade de estar em campo devido à pandemia de Covid-19.