“Nós somos a História”

criações e circulações entre ikoma e xitiki

Autores

  • Helena Santos Assunção

Resumo

Este texto propõe uma reflexão a partir da experiência de um grupo de mulheres que se reúnem para dançar, cantar e fazer xitiki (sistemas de ajuda mútua através de crédito rotativo comuns em diversos contextos africanos). A História é o nome deste grupo de tufo (expressão musical-corporal do litoral norte do país) do qual participei, junto às vizinhas do bairro Litine, na Ilha de Moçambique, entre 2019 e 2020. 

A prática dos grupos de tufo da Ilha de Moçambique pode ser ouvida como uma alternativa, uma possibilidade de contar "outras histórias" - através da criação das músicas que são dançadas pelo grupo - que não se encerram nas narrativas da pobreza estrutural e da vulnerabilidade econômica feminina da região. Detendo-me nas criações dessas mulheres, pretendo contribuir para a discussão da prática de xitiki mostrando como os aspectos expressivos, artísticos, bem como o destino dessas apresentações (ritos de iniciação) estão intimamente conectados. Por outro lado, ao pensar nas circulações que ocorrem no interior e na vizinhança dos ikoma (batuques) e xitiki podemos pensar como estes se relacionam com práticas econômicas cotidianas.

Finalizo o texto com uma reflexão acerca da importância do movimento, que não se limita aos aspectos de socialização, mas àquilo que anima, e que se opõe à estagnação, expressa na condição de estar sentada, sem perspectivas, emprego ou dinheiro. Esboço, então, a ideia que as dinâmicas de circulação e de criação engendradas nas práticas de xitiki e dos múltiplos batuques (tufo, ritos de iniciação) que as mulheres promovem na Ilha de Moçambique, podem ser um antídoto para este 'estado de estagnação' gerado tanto por desarranjos espirituais ou efeitos da guerra prolongada, como também pelos modos de funcionamento (exclusão, rompimento de vínculos) próprios do capitalismo.

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Publicado

2022-04-28

Edição

Seção

ST11 Novas imaginações, outras histórias: especulações sobre capitalismo, tecnologia e ciência