Xenogênese como alegoria de um futuro pós-humano

intersecções de tecnologia e ciência na perspectiva de Octavia E. Butler

Autores

  • Camila Americano Lanhoso

Resumo

Focalizamos a trilogia literária Xenogênese, de Octavia E. Butler, autora de ficção científica, mulher negra que viveu em Pasadena, na Califórnia, epicentro do capitalismo tardio pós-fordista. Escrita no auge da expansão da indústria das ciências da vida, na década de 1980, a trilogia é formada por Despertar (2018 [1987]), Ritos de passagem (2019 [1988]) e Imago (2021 [1989]), e trata da origem do estranho, do desconhecido, do alienígena. Inscrita em um futuro pós-humano, explora temas de interesse da antropologia e da ficção científica, como a intrincada relação entre capitalismo, raça, gênero, deficiência e biotecnologia (DOWDALL, 2017), especialmente a alteridade enquanto ética da transformação ontológica da relação do humano com o não-humano, o inumano e o pós-humano (GOMEL, 2014). Sua personagem principal, Lilith Yiapo, desperta 250 anos após uma guerra nuclear ter devastado a Terra. Sob a guarda dos seres alienígenas Oankali, a protagonista tem a missão de despertar outros humanos sobreviventes da catástrofe e (re)povoar o planeta. Os oankalis são seres híbridos com tentáculos sensoriais, que viajam pelo espaço intergaláctico em busca de outros seres sencientes para a permuta genética necessária à sobrevivência da própria espécie, composta por machos, fêmeas e ooloi (nem macho nem fêmea); objetivam criar uma nova sociedade híbrida, de humanos e oankalis, os constructos. Todos têm a habilidade de decifrar a bioquímica genética, mas somente os ooloi podem manipulá-la para gerar descendentes. Nossa hipótese tem como base os estudos de Gomel (2014) e Dowdall (2017), que entendem a trilogia como uma narrativa sobre o processo de assimilação (neo)colonial, tecendo críticas ao capitalismo neoliberal norte-americano, em que a biotecnologia extrai o (bio)valor e o explora via seleção genética, reprodução humana, racismo científico e eugenia.

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Publicado

2022-04-28

Edição

Seção

ST11 Novas imaginações, outras histórias: especulações sobre capitalismo, tecnologia e ciência