Plantar sem água e em solo pedregoso

a diversidade biossocial contaminada de um coletivo de permacultores

Autores

  • Gabrielly Merlo de Souza

Resumo

A história de ocupação do terreno onde encontra-se o Sítio Entoá foi contada por Gustavo e Christiane (moradores do sítio) em conversas travadas na cozinha, em caminhadas por agroflorestas e em trilhas pelas serras de Minas Gerais. O sítio Entoá é onde uma pequena família neo-rural vive e realiza atividades que giram em torno de conhecimentos pautados em ética ecológica, tal como permacultura, bioconstrução, manejo de plantas medicinais e produção artesanal de produtos fitoterápicos. O trabalho que realizam é em grande medida experimental e seus domínios sobre o trato da terra e manipulação das plantas foram aprendidos ao longo de mais de dez anos de convivência com o cerrado. Ao iniciarem o projeto de transição para o rural, Christiane e Gustavo ocuparam um terreno que havia sido, há décadas atrás, devastado pela ação de pedreiras clandestinas e aberturas de estradas. A paisagem difícil que encontraram em 2004 os impulsionaram ao trabalho de recuperação da biocenose do lugar. A permacultura aparece, então, como um conhecimento que lhes mostraria caminhos para uma regeneração baseada em ética de cuidado e no aprendizado com o ambiente. Os novos tempos se revelaram promissores. No contexto da pesquisa realizada entre os anos de 2015 e 2020, me deparar com essa história ecológica-parcial – que é uma história sobre restauração ambiental e habitabilidade – me levou diretamente a refletir sobre manejo sustentável, ecológico, agroflorestal, noções caras às práticas dos moradores e que se referem a um modo de ser/estar/cuidar da terra. Em minha etnografia conto uma história de sonho de uma terra habitável não só para os humanos ou comandada por humanos, mas sobretudo uma terra em que os não-humanos são participantes ativos daquele modo idealizado de regeneração. Sigo refletindo como alianças potenciais entre humanos e não humanos em projetos de regeneração ecológica podem ser pensadas como forças insurgentes em tempos de Antropoceno; e ainda, pergunto: estariam práticas de cuidado da terra e compostagem tencionando perspectivas conservacionistas e ambientalistas de paisagem e de biodiversidade?

Downloads

Publicado

2022-04-28

Edição

Seção

ST12 Dos Troços aos Destroços: ciências emergentes e saberes ressurgentes no Antropoceno