Vida vivida nos extremos
contribuições da Astrobiologia para pensar o Antropoceno e suas perturbações
Resumo
A Astrobiologia é um campo de investigação multidisciplinar que trabalha com o conceito de vida como fenômeno cósmico, em vez de algo exclusivamente terrestre. Tal abordagem se concretiza a partir do estudo de ambientes considerados extremos na Terra e de seus habitantes, os organismos extremófilos. Neste artigo, emprego o “extremo” e suas conexões semânticas como eixos de análise para pensar as paisagens perturbadas pela ação antropogênica/capitalogênica e as condições de existência que elas ensejam. Parto do pressuposto de que o Antropoceno, mais que uma época geológica, pode ser pensado como um arranjo gerador de extremos. Da habitabilidade contaminada nos terrenos pantanosos do norte ucraniano às remodelações provocadas pela pandemia de Covid-19, o Antropoceno parece produzir e/ou acelerar configurações extremas que se sobrepõem com cada vez maior frequência e intensidade, forçando-nos a reconhecer a presença inquietante do “improvável”, do “incomum”, do “limítrofe” no cotidiano, e seu impacto na forma como a vida é conduzida.