“Uma pontuação que eu não sei de onde é”
reflexões da classificação algorítmica no trabalho de entregadores de um aplicativo de delivery
Resumo
Com a finalidade de pensar sobre o amplo uso das plataformas digitais no cotidiano, assim como seus impactos nas relações de trabalho, intensificadas pela pandemia de COVID-19, este texto busca discutir as supostas pontuações que classificam os trabalhadores vinculados às plataformas de entrega (delivery), com enfoque na empresa brasileira iFood. Trata-se de uma reflexão, a partir dos relatos trazidos em entrevistas realizadas em 2020, do gerenciamento algorítmico como instrumento de prescrição de comportamentos e de desempenho dos trabalhadores. Assim, verifica-se a existência de uma classificação oculta feita pelas plataformas que impacta diretamente o trabalho e a sobrevivência desses trabalhadores ao determinar quem terá ou não acesso à atividade. Além de refletir sobre os procedimentos disciplinares impostos pelas plataformas, questiona-se a neutralidade das tecnologias, em especial, dos algoritmos, a fim de destacar a incorporação dos valores e preceitos da empresa ao desenvolvimento dos instrumentos e artefatos. Pode-se dizer que, nesse sentido, existe uma relação de subordinação dos trabalhadores à plataforma digital, visto que a empresa impõe, sutilmente, diretrizes de como deve ser realizado o processo de trabalho, o qual é gerenciado e controlado algoritmicamente por ela própria. A discussão apresentada neste artigo se apoia em resultados de uma pesquisa empírica realizada com trabalhadores que utilizaram o aplicativo de delivery do iFood na cidade de Curitiba, em 2020, no contexto da pandemia de COVID-19.